quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobre d. Hilda

Quero sujar minhas unhas de terra. Calar fundo no solo e quem sabe colocar nele uma mudinha de onze horas. A flor que fez parte de mim na infância e que ainda não consigo olhar sem sentir saudades. A flor, assim como o chá com leite e o requeijão com mel, faz parte de uma pessoa que amei profundamente e perdi. Minha maior perda que parece ainda viva quando penso nestas coisinhas simples. Quem sabe, deixar a marca no mundo signifique exatamente isso. É deixar-se ir embora quando chegada a hora e saber que em alguns corações a lembrança nos manterá viva.
Já fazem anos que ela se foi. Eu não lembro a data precisa, nem mesmo o ano consigo lembrar, mas a dor e a lembrança, estes estarão sempre comigo. Duas emoções distintas que dividem meu coração cada vez que lembro dela. Minha avó de contos de fadas, que cuidava das flores, preparava minha xicara de chá e me colocava sentada em latas nas festas de família.
Quem sabe eu seja a única neta a lembrar-lhe desta forma, com o carinho que me ensinou e esta dorzinha chata que aparece sempre que lembro. Já fazem anos e a memória continua vívida em tons de laranja, amarelo, verde e rosa, como as onze horas que tinha em seu jardim.
Quando tiver minha casa, quero um jardim, ou ao menos um belo vaso com estas flores, para colocar nelas o amor, o carinho e a saudade que minha vó deixou dentro de mim.

beijo, beijo, beijo
Gi.

2 comentários:

josi stanger disse...

Lembrar e relembrar, falar dela com tanto carinho a trará sempre viva no coração de quem a conheceu.
Eu que conheci tão pouco, recordo do cheiro da casa, não como um cheiro da memória olfativa, mas como o carinho de sua voz suave, e seus gestos delicados, como as flores do jardim... ela está num bom lugar, e de lá olha por você... talvez relembrando o seu sorriso, no rosto sardento, os seus cachinhos dourados, cabeleira solta ao vento, o seu jeitinho sapeca, os olhos alertas sempre aprendendo algo e prendendo na gavetinha do coração as coisinhas mais simples da vida, pra mais tarde, com uma saudade tranquila, reolhar as mesma flores e cenas com olhos de saudade e gratidão...
te amo, minha sobrinha... muito muito muito...

Jéssica disse...

eu não tive isso.
ou tive tão pouco disso que nem me lembro.
não nego a inveja que sinto cada vez que você toca no assunto. você teve uma avó que eu não tive. Minha avó já era uma senhora velhinha e doente, que não saia do sofá, que não podia mais acompanhar os passos de uma criança.
E você falando assim, sinto falta da avó que você teve. sinto não poder dividir essas lembranças.
Pelo menos alguém as guarda com tanto carinho. E de onde ela estiver, deve estar orgulhosa da menina de sardas e cachinhos dourados.