quarta-feira, 20 de abril de 2011

Viagem...



Se encheu de prozac como se pudesse aplacar a bulimia que ela nem sabia se realmente existia.
Sua mãe tinha as faces pintadas de rosa, mas era o lápis preto ao redor de seus olhos azuis de menina que incomodavam o mundo.
Estranhava o nome que as pessoas dão as coisas. Coisas que nunca experimentaram mas que fingem conhecer, pretendem se fazer acreditar que têm intimidade.
Quantos apologistas a movimentos não conhecem sua causa? Quantos vegetarianos realmente acreditam no que fazem, quantos foram fisgados pela moda verde?
Ela mesma se deixou levar pela moda do preto e pintou os belos cachos dourados...
Era mesmo necessário que fosse julgada, rotulada e colocada de lado?
Colocou os óculos escuros para ocultar o vermelho da viajem, fechou a jaqueta para se livrar do frio.
Seu quarto que já havia apresentado brancas paredes nuas estava repleto de fotos de pessoas e lugares que ela pensava conhecer. Seus antigos amigos pregavam-lhe peças e sorriam em fotografias amareladas. Onde mesmo fora parar a máquina infantil e analógica que ganhara do pai em seus oito anos?
Lembrava-se de que era amarela, o protetor da lente formava a cara de um cãozinho que agora brincava pelo quarto. Porque jamais lhe deixaram ter um bichano como aquele? Sua mãe lhe dizia que davam trabalho, mas deixava que fosse com a empregada até o zoológico municipal ver os macacos e tigres que eram malcheirosos, mas lhe faziam sorrir.
O pai lhe levava à praia nos fins de semana... Onde ele estaria naquele momento? Seu último postal era de Paris, mas com aqueles dois era impossível saber. Uma segunda lua-de-mel para apagar as brigas e traições, dinheiro direcionado aos bolsos de alguma secretária, amassos com o jardineiro na garagem. Os dois eram patéticos, mas faziam terapia. O terapeuta lhes arrancava os olhos, mas sentavam lado-à-lado uma vez por semana, dinheiro bem gasto...
Fechou os olhos quando o cãozinho aproximou-se de seu rosto, mas não sentiu o áspero toque da língua. Perfeito sua mãe diria que estava dopada, mas ela sabia o quão chapada realmente se sentia.
Fodam-se as convenções da sociedade, fodam-se os terninhos rosados, os cartões sem limite, a cama de dossel na qual estava sentada. Fodam-se os que acreditam e os que simplemente ignoram...
Fechou os olhos tomada pela paz que o remédio lhe dava. Quando a manhã chegasse a velha empregada lhe traria um copo de achocolatado e lhe faria um carinho para recebê-la daquela estranha viagem.

Um comentário:

kami disse...

Hoje em dia pode-se dizer que tudo se compra, por que por mais incrivel que pareça, tudo se vende... a felicidade, a tranquilidade, a alegria, tudo é vendido, legal e ilegamente, e tudo bem rotuladinho, com dosagem especifica pra cada dor e cada tipo de consumidor.
Por isso a vida ficou tão compacta e rapida, tudo é fast, até os sentimentos... as personalidades, tudo se compra, se encomenda e se necessario manda ajustar, assim se dá uma personalizada, um ar mais exclusivo, já que todo mundo acaba com a mesma cara....


Minha querida Gi!!!!!!

Que saudade de vc, de saber o que anda fazendo da vida, de saber das novidades...
Seu blog tá o maximo! Andei lendo muitas coisas por aki e pelo visto vc conseguiu aprimorar a perfeição!
Adoooooorei!
Quanto aos post, tenho que dizer que muitas das coisas me fizeram pensar, sempre te imaginei uma menina doce, somente doce, como se não pudesse coexistir outro sentimento que não esse em vc, mais confesso que me surpreendi com muitas coisas que eu andei lendo por aki. Mais acho que boba sou eu, ninguem perfeito pode não ser complexo, e vejo agora muitos outros lados que não conhecia, e gostei, muitoooo.
Sinto-me até mais proxima de vc, se é que é possivel!

Mais de comentário a carta é só alguns pensamentos....rsrsrsrs....ops!

Amo-te minha querida!

Bjusssssss